Minha iniciação se deu de forma surpreendente na Doutrina Espírita. Como médico, praticamente recém-formado, eu dava plantão na Santa Casa de Misericórdia de Cambé, aqui no Paraná, e, certa madrugada fui chamado para atender uma jovem que havia tentado o suicídio, ingerindo várias medicações ao mesmo tempo. Ela não tinha mais que dezesseis anos. Cumpri toda a rotina de atendimento e, vendo-a fora de perigo, observei que ela apresentava as conjuntivas bastante amareladas, típicas de um problema de fígado, que dificilmente poderia ser pela intoxicação, que era muito recente. Então a internei em isolamento com suspeita de Hepatite.
Ela ficou uns quatro dias internada, e o que me incomodava era seu estado psíquico. Uma depressão profunda, sem brilho nos olhos, não conversava, sempre virada para a parede em posição fetal. Após o terceiro dia de visita, sem alteração do quadro, saí para o almoço e passava em frente ao Lar Infantil Marília Barbosa e Centro Espírita Allan Kardec, quando o Sr. Hugo Gonçalves, já com uns setenta anos, estava saindo do recinto e me cumprimentou.
Desde quando eu ainda era estudante de medicina já ouvira falar dele, de seu trabalho e de sua espiritualidade, o que há muito eu ansiava encontrá-lo.
Passamos a conversar e ele convidou-me para uma reunião que haveria à noite, de estudos, com um médico de Rolândia, cidade vizinha: Dr. Luiz Carlos Pedroso, há muito na pátria espiritual.
Ao término do maravilhoso encontro, onde a Doutrina foi-me apresentada com muita clareza, aquele grupo se dispersou e um pessoal muito simples, da periferia da cidade, começou a chegar para outro encontro. Hugo convidou-me a participar, dizendo que se tratava de uma reunião para atendimento espiritual e que seu quisesse interceder por alguém, poderia. Tomei de um livro sobre a mesa e anotei o nome da jovem internada na Santa Casa.
A reunião começou e logo uma das senhoras mostrou-se envolvida por alguém, um espírito feminino, que dizia estar atormentada , sentindo cheiro de velório e de velas e que não conseguia entender nada do que ocorria. Após alguns minutos de conversa, foi perceber que havia tido um infarto fulminante que se dera há mais de quatro anos. Saiu dali confortada.
Qual não foi minha surpresa, no outro dia, ao passar a visita médica na Santa Casa e deparar-me com a jovem suicida sentada, com um sorriso no rosto, aguardando-me para conversar. Foi então que ela me contou que já era a quarta tentativa de suicídio, e que tudo começou após a morte de sua mãe, há mais de quatro anos, por um infarto, desde quando passou a sentir-se estranha, depressiva, só pensando na morte e sentindo cheiro de velas e velório
Especialidade na medicina e como auxiliar espiritualmente os pacientes!
Desde poucos anos de formado, fui atraído para o lado do sofrimento humano. Minha primeira especialidade foi Terapia Regressiva a Vivências Passadas, curso que fiz sob a orientação da Dra. Maria Júlia Pietro Peres de São Paulo, que durou uns dois anos. Quando tive a oportunidade de conhecer Dr. Morris Netherton, um dos responsáveis por transformar a regressão de memória em uma técnica terapêutica com excelentes resultados. Trabalhei uns sete anos com essa técnica.
Depois conheci os florais de Edward Bach, que até hoje têm me ajudado a aliviar os sofrimentos humanos. Trabalho na Universidade Estadual de Londrina há vinte anos e ali, eles têm me sido muito úteis. Entre a Universidade e a minha clínica, já tenho mais de vinte mil pacientes atendidos com esse procedimento terapêutico.
Depois, em 1998, especializei-me na Medicina Tradicional Chinesa, hoje apenas fazendo acupuntura auricular para dores em geral.
Atualmente, acrescentei ao meu currículo a Homeopatia, ciência que muito tem me ajudado a tratar as doenças crônicas e também as emoções enfermas. Participo como monitor de ambulatório e professor assistente no Curso de Especialização de Homeopatia de Londrina (CEHL).
Como é e foi ser amigo de Hugo Gonçalves.
É não ficar parado nunca e sempre poder contar com seu amparo espiritual nas horas mais difíceis de nossas vidas.
Digo não ficar parado, porque Hugo está sempre estimulando-nos ao trabalho na Seara do Cristo, através da doutrina consoladora dos espíritos.
Entrei na Casa Espírita, como lhe disse, em setembro de 1983. Em abril de 1987, já estava fazendo minha primeira palestra, por seu empenho. Há mais de vinte anos, pediu-me para dirigir um programa de rádio, em Londrina, que até hoje vai ao ar, com duração de uma hora, pela Rádio Londrina, todos os domingos de manhã. Tem o nome "Além da Vida"...
Através de Hugo, pude conhecer as figuras mais importantes do Espiritismo em todo esse tempo, grandes divulgadores do Espiritismo, que muito me ajudaram no meu desenvolvimento espiritual e na minha conduta como espírita praticante.
Conhecer trabalhadores Espíritas com anos de estrada, quando você está apenas começando, é como receber um norte para sua caminhada dentro da Seara Cristã. A abnegação de Divaldo, bem como suas palestras; a seriedade e preocupação com a pureza doutrinária, de Heloísa Pires e Raul Teixeira; a Humildade e a Caridade constante, na vida de Chico a quem também tive a oportunidade de visitar e ouvi-lo dizer da importância de Hugo Gonçalves para o Espiritismo do Brasil, além de dizer que lia "O Imortal".
Inegavelmente, conhecer a todos esses excepcionais trabalhadores cristãos, cada um com sua característica, é como receber de Jesus os Talentos para serem multiplicados. Só me sustentaram na estrada que tenho percorrida, junto de minha esposa, em prol da divulgação da Doutrina dos Espíritos.
Dr. José Antônio com Divaldo Franco.
Toda vez que por aqui passava, Hugo pedia que eu o entrevistasse para "O Imortal", ele se sentava bem aí onde você está. E pedia também que eu o apresentasse nas suas conferências, que se dava no Clube Harmonia, de nossa cidade. Ao lado de Divaldo é difícil você não viver algo sublime.
Em 1998, no meio do ano, fui acometido de um infarto leve, que me levou a viver dias bastante inseguros, mas que enfrentamos apenas no ambiente doméstico, sem que ninguém mais ficasse sabendo. Como não houve intervenção cirúrgica, minha família manteve-se em silêncio. No final daquele ano, Divaldo veio para uma conferência aqui em Cambé, e quando almoçávamos aqui na casa de Hugo e Dulce, sua fiel companheira, esposa e amiga, algo muito significativo ocorreu. Almoçávamos em mais de sessenta pessoas, em uma mesa que foi preparada na forma de um “U”. Hugo, Divaldo e mais alguém da Federação Paranaense ocupavam a cabeceira. Eu estava bem na ponta, conversando com Astolfo, atual diretor de "O Imortal" e um dos coordenadores da revista eletrônica http://www.oconsolador.com.br/, de apresentação semanal, quando subitamente senti duas mãos sobre meus ombros. Olhei para trás e deparei-me com Divaldo, que já havia terminado seu almoço, sem que percebêssemos.
Ele cumprimentou-me e disse-me: "Meu caro Dr. Antônio, o espírito Cairbar Schutell acabou de passar por aqui e pediu-me que lhe um felicitasse. Disse-me que você passou por um problema cardíaco há alguns meses e que era para terminar com sua desencarnação poucos meses depois, mas que você ganhou uma moratória, e isso, devido ao seu esforço sincero em se melhorar". Virou-se e foi embora, sem mais nenhum comentário.
Belém - Casa do Pão
No mês de março de 1994, inauguramos uma Instituição Espírita em frente a um bairro bem pobre da cidade de Londrina, com o nome de "Belém, A Casa do Pão". Hoje, Núcleo Espírita Hugo Gonçalves. Quando Divaldo estava completando cinquenta anos de Mediunidade, houve uma grande confraternização na cidade de Santo André, em São Paulo, onde todo ano há um encontro com ele, a favor da mansão do caminho, encontro coordenado pelos também grandes trabalhadores, Miguel de Jesus Sardano e sua esposa, Dona Terezinha, a quem temos o prazer de privar da amizade.
Naquela época, nosso núcleo estava sendo testado espiritualmente e os trabalhadores mais sensíveis começaram a se melindrar, assumindo comportamentos que dividiam o grupo, foi muito difícil. E, na viagem para lá, com minha esposa, no caminho decidi: Vou deixar a Casa do Pão, será melhor para todos (sempre fui um dos dirigentes). Minha esposa achou prematuro, mas não discordou. Paramos em Itapetininga, cidade de minha família, onde nasci. Minha esposa ficou lá e meu irmão Ivan, também espírita dedicado, me levou.
Quando chegamos, aproximadamente ás 15 horas, havia dois auditórios, um para mais de mil pessoas, onde muita gente aguardava para a conferência que seria às 18 h, e outro menor, para umas trezentas pessoas, onde Divaldo autografava. Todos aguardavam sentados. Terminava um autógrafo, o próximo se levantava. Quando adentrei o recinto, com meu irmão, após cumprimentar Dona Terezinha e Miguel, vi que Divaldo olhava em minha direção. Em seguida, me acenou para que me aproximasse. Aproximei-me e, após os cumprimentos, perguntou-me porque eu estava tão longe de casa. E disse-lhe que era para participar daquele acontecimento importante em sua vida. Então, falou-me algo que me impressionou: "Meu caro doutor, pergunto isso porque, há dois dias, em Salvador, o espírito Cairbar Schutel me procurou pedindo que lhe desse um recado. E eu fiquei incomodado porque, como iria dar-lhe um recado, eu aqui na Bahia e você lá no Paraná? E agora, vejo-o aqui em minha frente. Ele pediu-me para dizer-lhe para não deixar aquela Casa do bairro onde vocês dão assistência. Disse que os problemas todos são de ordem espiritual e que eles vão resolver pelo lado de lá."
Olhei, indignado, para Divaldo, e falei: "Mas Divaldo, eu tomei essa decisão hoje!" Antes nem me passava pela cabeça. E ele veio dar o recado há dois dias?!?...
Sobre como se iniciou este labor e como se encontra hoje a "Casa do Pão"
“Belém, A Casa do Pão” surgiu de uma visita que fizemos em Sacramento, para conhecer os trabalhos de Eurípedes Barsanulfo. Lá conhecemos um empresário de São Paulo que havia fundado a primeira instituição com esse nome com o objetivo de levar o Espiritismo a assistência social à periferia da cidade. Identificamos-nos imediatamente com essa idéia e a trouxemos para nossa região.
Ela é um foco de luz incrustado na Terra. Ali sorvemos as bênçãos que provêm do alto enquanto aprendemos a servir nossos irmãos mais necessitados. Graças a Deus ela encontra-se profundamente vitalizada, em pleno trabalho.
Elogios quanto á oratória e o motivo de tanto sucesso em suas palestras!
Não há motivos para tantos elogios. Na verdade, Hugo Gonçalves é o grande responsável pela formação de todos os oradores desta casa. Ele é o pilar que nos sustenta a todos. Se tenho sido feliz quando falo, é porque aprendi a considerar esse momento um trabalho que não nos pertence, mas, à espiritualidade maior. Nosso dever é estudarmos a Doutrina e o Evangelho de Jesus para sempre termos material para que eles, os benfeitores, distribuam através da intuição, da inspiração.
Na hora das palestras sinto-me como os apóstolos diante da multidão faminta, quando procuraram Jesus perguntando como alimentá-los. Jesus lhes perguntou: O que tendes? Responderam que poucos pães e alguns peixes. E Ele, nosso mestre, os multiplicou.
Então, mesmo que me sinta detentor de pouco conhecimento, nesses momentos confio muito em Jesus e nos benfeitores e sei que não faltará o alimento para os que ali compareceram.
Mensagem final do Dr. José Antônio Vieira de Paula
Há alguns tempo, perguntaram-me porque eu deixei de ser católico para me tornar espírita. Pensei um pouco e respondi: Eu gostava de ser católico, mas o era apenas dentro das Igrejas. Tinha muita dificuldade para trazer o Evangelho de Jesus para minha realidade. O mundo era o espinheiro que me sufocava os ideais superiores.
Quando conheci o Espiritismo, encontrei-me com pessoas que, como eu, estavam cansadas das ilusões do mundo e que buscavam, do fundo de sua alma, a luz maior para suas vidas. E, com a Doutrina dos Espíritos finalmente entendemos o que Jesus queria dizer quando falava que o reino de Deus estava dentro de nós.